segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Natura rerum




Que tempo fará quando voltares?
Que sonho será quando for dia
e à beira de quem fomos regressar?
Há uma força antiga,
desmedida,
que as forças que penso ter
já não conseguem deter.
Uma força que não tem tempo,
que não tem fim,
uma força que, d’além, nos dá além.
Uma excedente saudade,
que me passa, trespassa
e sobrepassa.
Não é tropismo,
reflexo condicionado,
automatismo.
É uma força bem mais forte,
bem mais funda.
Tem a autenticidade
das nascentes de água cristalina,
a calma serena dos poentes,
o saudoso tamanho
das mais pátrias raízes
e a maternal sombra
das árvores centenárias.
É uma força serena e perfumada,
tão antiga e tão suave
quanto o húmido musgo
das pedras do velho muro
que bordeja meu jardim.
E nesse íntimo segredo,
que me sustenta e fere,
há um dinâmico imobilismo,
a pétrea semente
de um tempo antiquíssimo,
o virtuoso, imanente,
a natureza das coisas,
que procuro.
A pensada raiz da emoção,
que, em carne viva,
pelo sonho, me sustenta.
Humano, demasiado humano,
tão simples como o fluir do tempo,
o seguir a brisa que me leva
à própria raiz do vento,
a força de dizer sol,
de dizer mar,
de dizer pinhal.
onde volta a ter sentido
o sítio para onde vou.